A Catástrofe Portuguesa

Portugal tem um lugar de relevo em todas as tabelas, gráficos ou diagramas que visem analisar o número de incêndios ou os metros quadrados consumidos pelas chamas nos países europeus.

Embora o território português seja constituído por uma pequena área geográfica, entre 1993 e 2013,  Portugal foi palco de mais incêndios do que Espanha, Itália, França ou Grécia. A nível absoluto, o ano de 2005 destaca-se como o ano em que se registou uma maior ocorrência de incêndios, 35697, mas foi no ano de 2003 em que se perdeu uma maior área florestal devido a este fenómeno, 425726 ha. As informações disponíveis no portal PORDATA sugerem que, desde início do século, a única translação em torno do Sol em que Portugal não liderou o ranking do número de incêndios foi a de 2014, figurando no segundo posto, logo atrás da vizinha, Espanha.

São considerados catástrofes naturais porque se desenvolvem na natureza e dependem de factores naturais não considerando o papel que o Homem pode ter na sua origem e desenvolvimento. Em Portugal, ficamo-nos apenas por catástrofes pois é assim que se definem as repercussões destruidoras que temos a infelicidade de viver ou a sorte de não sentir. Coloca em risco as nossas vidas, destrói as nossas fontes de alimento, arrasa o ambiente que nos rodeia e leva os nossos bens. 





O relatório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas que incide na análise das causas dos incêndios florestais que foram alvo de investigação entre 2003 e 2013 apura que o 'uso do fogo' e o incendiarismo são as responsáveis pela maior percentagem de ocorrência de incêndios.

A categoria 'uso do fogo' inclui as queimas, queimadas, fogueiras, cigarros e lançamento de foguetes que, de forma negligente e perfeitamente inevitável, resultam em fogos de consequências imprevisíveis. Outros fogos que tem origem em acidentes com maquinaria ou cabos de telecomunicações entram também nos fogos negligentes que representaram mais de 50% dos incêndios que foram investigados no período (imagem abaixo).


Quadro das causas das ocorrências investigadas e apurados por distrito (2003-2013)



Os dados do quadro verificam o já referido sobre o grande papel das causas intencionais na origem de fogos. De acordo com o Jornal de Notícias, entre Janeiro e Agosto de 2017, a Polícia Judiciária (PJ) deteve 60 pessoas por crime de incêndio. Alcoolismo e motivações de vingança contra conhecidos são as razões apontadas para os casos de fogo posto, que têm consumido áreas importantes de floresta e ameaçado habitações. Serão estes factores suficientes para explicar a enorme incidência destes casos ou estamos perante pessoas com distúrbios patológicos de controle de impulsos e conduta? 
A piromania continua a ser um transtorno do controlo de impulsos relativamente pouco pesquisado e possivelmente subestimado. Os fortes desejos de assistir a incêndios existentes ou de criar novos pode levar a que os indivíduos se envolvam em atos de incêndios criminosos, muitas vezes, colocando em risco as suas próprias vidas e a vida de outros. As causas por detrás da piromania não são totalmente conhecidas, no entanto, os conhecimentos sobre o tratamento estão mais clarificados, existindo alguns psicofármacos com eficácia comprovada. É importante detetar estes casos, caso existam; é mandatório atuar para que estas pessoas consigam controlar os seus impulsos e não reincidirem na prática dos crimes.


Analisando sob o ponto de vista de área ardida, são os incêndios de origem natural que se associam a áreas mais extensas (média de 86ha/ocorrência) embora as 'causas naturais' não origem um grande numero de incêndios. Paradoxalmente, o 'uso do fogo' para a realização de fogueiras, de queimas de lixo e de queimadas, apesar de muito frequentes, não está associado a grandes impactos em termos de área ardida (média de 2ha/ocorrência, 8ha/ocorrência e 9 ha/ocorrência, respetivamente). 


'A propagação de um incêndio depende das condições meteorológicas (direção e intensidade do vento, humidade relativa do ar, temperatura), do grau de secura e do tipo de cobertura vegetal, orografia do terreno, acessibilidades ao local do incêndio, tempo de intervenção (tempo entre o alerta e a primeira intervenção no ataque ao fogo, vulgarmente designada como ataque inicial).' 

Quais destas características estão presentes em Portugal tornando-o num território tão propício a incêndios? Há outros factores importantes para o surgimento e propagação de tantos incêndios?

Um estudo da emissora britânica BBC realizado neste âmbito centraliza as responsabilidades em alguns aspetos principais: 
  • Portugal trata-se de um país 'quente' e experiência temperaturas altas mesmo antes do início do Verão.
  • A area florestal portuguesa é das maiores da Europa, sendo a maioria privada.
  • Existem falhas na gestão da floresta; O crescimento da indústria do papel no século XX motivou muitas plantações de eucaliptos que agora se tornam um problema, pois, estas plantações são altamente inflamáveis. 
  • Registam-se falhas de comunicação entre as autoridades nacionais aptas a atuar neste tipo de ocorrências que, certamente, aumentam o tempo de intervenção. 

Estaremos a lutar contra forças imparáveis e incontroláveis? Seguramente que as plantações de eucalipto da floresta portuguesa não vão desaparecer da noite para o dia ou as condições climatéricas não se vão moldar de acordo com a nossa vontade mas há muito que pode ser feito. A maioria dos incêndios florestais é derivado de situações de negligência; pequenas fogueiras, queimas de lixo e o abandono de cigarros são exemplos de atividades inevitáveis e às quais podemos encontrar alternativas mais seguras e sustentáveis ecologicamente. Em relação ao incendiarismo, devemos tratar os responsáveis como criminosos que merecem ser punidos com medidas de coação adequadas mas também devemos trata-los como possíveis doentes que necessitam de uma intervenção terapêutica que vise uma melhoria do controlo dos seus impulsos.

Por muitas medidas e esforços que já estejam em vigor para combater estas catástrofes naturais não têm sido claramente suficientes. A meio do mês de Agosto, a imprensa portuguesa já relatava que 2017 é o pior ano da década em matéria de incêndios. O que se pode fazer? 
Podemos ser cidadãos mais atentos não só nas épocas quentes mas todo o ano, podemos cuidar do nosso meio, podemos divulgar o que sabemos, informar quem desconhece os principais factores na génese de incêndios e tentar com que também tenhamos armas para nos defender da verdadeira calamidade que é o panorama de incêndios em Portugal. 


Fontes:
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
Wikipedia
PORDATA
Noticias ao minuto
Theravive
- Jornal de Noticias (15-08-17)


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