Erich Fromm - 'Ser ou Ter?'
Erich Fromm nasceu no seio de uma família judaica a 23 de março de 1900,
em Frankfurt, Alemanha. Foi uma importante figura do século XX nas áreas da
psicanálise, filosofia e sociologia.
Conclui
os seus estudos em território germânico, na universidade de Heildelberg, no entanto, após a
ascensão de Hitler ao poder, foi ‘forçado’ a deixar o país. Emigrou para os
EUA, onde construiu uma notável carreira, ainda que muito controversa e polémica,
como psicanalista, investigador e professor de psicanálise e psiquiatria.
Para
Fromm, a personalidade de um indivíduo era o resultado de fatores culturais e
biológicos. Neste aspeto, estava em desacordo com Freud, que privilegiava sobretudo os aspetos inconscientes do psiquismo. Fromm integrou os aspetos
socioeconómicos na explicação das neuroses e estabeleceu um relacionamento
entre o Marxismo e a Psicanálise. A sua obra é um enorme protesto contra as
diversas formas de totalitarismo e alienação social.
Erich Fromm - Psicólogo alemão |
Erich
Fromm desenvolveu estudos sobre dois modos básicos de estar no mundo: “Ser” e “Ter”.
Desde
sempre que a Humanidade procura o seu bem-estar, o seu prazer, algo que resolva
a questão da existência humana. Pela primeira vez na história, o bem-estar não
constitui apenas o privilégio de uma minoria.
O
desenvolvimento da sociedade em geral levou ao melhoramento das condições de
vida das populações, colidindo, colateralmente, com um “desmembramento” dos
valores humanos.
A
sociedade consumista tem um impacte profundo nos traços de personalidade dos
seus membros, algo largamente visível no século XXI e previamente
descrito por Erich Fromm. De acordo com ele, o que agora
está presente na nossa mente são ideais de posse; ideais de egoísmo que se
refletem no nosso comportamento. Dá-nos prazer possuir e não partilhar. Os
nossos desejos de “ter” são tão fortes que começámos a ver os outros como
adversários e, sendo o Homem um ser egoísta e invejoso, nunca está satisfeito ou
feliz, mas sempre à procura de algo mais, não existe fim para os seus desejos.
Nos
tempos primitivos o comportamento económico era determinado pelos princípios
éticos. O capitalismo do século XVIII separou-se totalmente dos valores éticos
e humanos, separou o “ser” e o “ter”. O desenvolvimento deste sistema deixou se
der governado, pela pergunta: “ O que é bom para o Homem?”; e foi substituída
pela pergunta: “O que é bom para o sistema?” e “O que é bom para mim?". O
sistema económico deixou de se preocupar com modos eticamente corretos de estar
na vida.
Para
concretizarmos a nossa necessidade de ter, servimo-nos constantemente dos
recursos da Natureza. A relação das pessoas com a Natureza tornou-se
extremamente hostil. Uma vez que a nossa existência está dependente das
condições do meio em que vivemos, é nosso dever preservá-lo e respeitá-lo, tarefa inconsistente
com o desprezo a Sociedade Industrial mostra à Natureza, e, com isto, inevitavelmente, as fontes naturais estão em claro risco de ‘extinção’. A
sobrevivência da espécie Humana está dependente de uma mudança na estrutura do
caráter do Homem acompanhada de progressos económicos e sociais sustentados nos valores da ética Humana e de respeito pela Natureza.
'Se eu sou o que tenho, e se perder o que tenho?' |
Numa cultura
em que o objetivo supremo é o ‘Ter’ e ter cada vez mais até parece uma função
normal da vida que para viver necessitemos de ter coisas. ‘Ter’ e ‘Ser’ são
dois modos fundamentais da experiência; a energia específica de cada um
determina as diferenças entre o caráter dos indivíduos e os vários tipos de
caráter social. As normas pelas quais a sociedade se rege, moldam também os
traços de caráter social dos seus membros. A grande diferença entre 'Ser' e 'Ter' é
a que se estabelece entre uma sociedade centrada sobre as pessoas e uma
sociedade centrada sobre as coisas.
Há situações do nosso dia-a-dia em que se refletem a necessidade de 'Ter'. Quando consultamos um médico, nós dizemos: “Doutor, tenho um problema…”, “…tenho insónias…”, “…tenho umas dores…”. A nossa experiência subjetiva é eliminada, o eu ligado à experiência passa a ligar-se à posse. Materializamos um problema que temos, tornando-o em algo da nossa posse. Transformamos o nosso sentimento em qualquer coisa que possuo: o problema. Para além disto grande parte do nosso discurso é feito com base no 'Ter: “o meu médico”, “o meu professor”, “o meu advogado”. Temos uma atitude de posse sobre outros seres humanos, e com um número infindável de objetos.
Há situações do nosso dia-a-dia em que se refletem a necessidade de 'Ter'. Quando consultamos um médico, nós dizemos: “Doutor, tenho um problema…”, “…tenho insónias…”, “…tenho umas dores…”. A nossa experiência subjetiva é eliminada, o eu ligado à experiência passa a ligar-se à posse. Materializamos um problema que temos, tornando-o em algo da nossa posse. Transformamos o nosso sentimento em qualquer coisa que possuo: o problema. Para além disto grande parte do nosso discurso é feito com base no 'Ter: “o meu médico”, “o meu professor”, “o meu advogado”. Temos uma atitude de posse sobre outros seres humanos, e com um número infindável de objetos.
Outra questão depreende-se com os nossos próprios sentimentos e com a forma como os interpretamos. Pode-se ter amor?
Pode-se ter felicidade? Não. Para tal ser possível, o amor e a felicidade teriam ser uma
coisa, mas são “abstrações". O amor e a felicidade dão defenidas como atividades de
auto-renovação e auto crescimento, nunca podendo ser interpretados como 'algo a ter'.
Os modernos consumidores podem identificar-se pela seguinte fórmula: “Eu sou igual ao que tenho e ao que consumo.” O principal motivo pelo qual raramente vemos sinais do modo 'ser' de existência, resulta do fato de vivermos numa sociedade voltada para a aquisição de bens e obtenção de lucros.
“Se
eu sou o que tenho, e se perder o que tenho? O que sou eu?”. Na Sociedade
Capitalista se perdermos o que temos, não somos nada. Ainda que pareça termos
tudo, as nossas posses e o nosso controlo sobre um objeto não passam de um
momento transitório durante o processo de viver. Visto que o Homem vive para si
próprio e preocupa-se com a obtenção de bens não há muito espaço para a sua
esperável manifestação da sua existência. Apenas a transmissão de valores
corretos e uma estrutura socioeconómica diferente poderiam mostrar outra
maneira de influenciar positivamente as pessoas. É necessária uma enorme mudança
do caráter do Homem para ser possível a saída viável para a trágica situação
criada pelo próprio.
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