HIV: Porque é tão perigoso?

O vírus da SIDA (HIV) destaca-se como uma das maiores ameaças à saúde mundial, havendo já registados, pelo menos, 70 milhões de infectados resultando em mais de 30 milhões de mortes. O HIV é um lentivirus (família Retroviridae) com um tropismo especial para as células do sistema imunitário que expressam o recetor CD4, deixando-o delimitado. Como consequência, os indivíduos  afetados tem uma elevada taxa de infecções e de tumores explicada pela ineficácia imunitária que os caracteriza após a infecção. Quais as características que tornam a infecção por este vírus  tão perigosa e de tão difícil tratamento?

A primeira razão relaciona-se com a rapidez com que o vírus estatele-se uma infecção latente. Sendo um retrovírus, a sua informação genética encontra-se na forma de RNA, o que requere uma conversão em cDNA, prévia à sua integração na informação genética da célula.  O processo completo englobando a conversão do RNA em cDNA e a integração deste, ocorre entre 5 a 10 dias. Tendo em conta que a ativação do sistema imunitário adaptativo demora, em média,  uma semana, quando as nossas defesas específicas estão aptas a combater o vírus da SIDA já este pode ter 'instalado' um reservatório silencioso nas células.

Voltando um pouco atrás, o processo de conversão RNA-DNA referido é também uma excelente arma do vírus na luta contra o sistema imunitário. A enzima que medeia a conversão tem uma  altíssima taxa de mutação. Na maioria das situações em que copia um segmento de RNA viral cria uma alteração errónea na sequência de cDNA. Deste modo o vírus que é inserido no DNA na célula é uma forma mutada do vírus que inicialmente entrou na célula. Estas mutações criam proteínas diferentes daquelas para as quais o organismo humano já pode ter desenvolvido defesas específicas, levando a uma 'impotência' imunitária.
O desenvolvimento de vacinas eficazes torna-se um autêntico desafio para um vírus com uma taxa de mutações tão elevada; Como é possível preparar o organismo para uma infecção causada por um agente que se altera com esta frequência?

HIV: Porquê tão perigoso?

Outro fator depreende-se com as próprias células que o vírus infecta. A condição essencial para que o HIV entre nas células é a presença do recetor CD4 à superfície, tornado os linfócitos T helper, os macrofágos e as células dendríticas candidatos ideais. Todas estas são constituintes do sistema imunitário, logo, as mesmas células que têm como função atacar invasores são as que são infectadas e danificadas pelo vírus!

Salienta-se ainda que existe a possibilidade de as partículas virais se anexarem às células dendríticas e serem transportadas por estas para os nódulos linfáticos. Aqui há uma grande concentração de células positivas para CD4 facilmente alcançáveis pelo vírus. Por este e ainda outros procedimentos semelhantes, os nódulos linfáticos podem-se tornar incontestáveis  reservatórios de HIV. 


Existem alguns tratamentos bastante dispendiosos que têm tido sucesso em atrasar o desenvolvimento da doença. Todavia ainda falta um longo caminho na procura por uma solução permanente. Apenas 25% da população europeia consegue impedir que as manifestações da doença interfiram com  o seu dia-a-dia. A rapidez com que estabelece a latência, a elevada taxa de mutações, a debilidade do sistema imunitário e o uso deste para facilitar a sua propagação pelo organismo fazem do HIV um  dos mais complexos desafios da ciência atual.


Fonte: 'How The Immune System Works', Lauren Sompayrac

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